terça-feira, 23 de agosto de 2011

A equipe do NN - A Mídia do Petróleo realizou a cobertura diária do ENAEX, 2011. Como destaque  temos a entrevista com o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, que falou sobre a importância do Encontro Nacional de Comércio Exterior 2011 -  (ENAEX) , sobre a nova política industrial e a crise dos EUA. Confira aqui a entrevista na íntegra:



1) Nos dias 18 e 19 será realizado, no Rio de Janeiro, o ENAEX 2011. Qual a importância desse encontro para o comércio exterior brasileiro e as expectativas para a edição desse ano?

O ENAEXé o mais tradicional e o maior evento de comércio exterior do Brasil. A primeira edição foi organizada em 1971, dois anos apenas após a Constituição da AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, e agora em 2011 nós estamos organizando a 30º edição do Enaex.

A importância dele pode ser medida pelo número de inscritos. Por exemplo, nesse ano de 2011, até hoje (17/08), temos 2.400 inscritos para o ENAEX, o que demonstra a importância do evento, das empresas, do próprio governo, ou seja, mostra a oportunidade de ter frente a frente o setor privado com o setor governamental na busca de soluções para o comércio exterior brasileiro. É um evento que permite a troca de informações, de idéias ou mesmo anúncio de sugestões no comércio exterior brasileiro.

2) Recentemente, o governo da presidente Dilma Rousseff lançou o Plano Brasil Maior que, entre outras medidas, cria políticas para o comércio exterior. Qual a sua opinião sobre o plano e como ele irá interferir no setor?

Um plano de boas intenções, mas com um alcance muito pequeno, ou seja, insuficiente para resolver os grandes problemas que nós temos hoje no comércio exterior brasileiro. Na verdade, esse plano deveria abrir maior possibilidade para as empresas brasileiras terem condições de competir no mercado externo em produtos manufaturados, mas infelizmente as medidas têm um alcance muito pequeno, porque elas atuam em áreas teoricamente sem forma para você competir no exterior, mas como disse o impacto é muito pequeno.

Nós temos uma defasagem cambial muito grande e essa defasagem só aumenta porque, quando a taxa de câmbio não sobe e os custos do mercado interno em reais crescem, essa defasagem só vai aumentando, então o Plano é um conjunto de boas intenções, mas completamente insuficiente para resolver um pequeno problema do comércio exterior brasileiro.

3)  Muito se fala no Brasil sobre os gargalos que atingem o setor de infraestrutura do país. Portos e aeroportos estão incluídos nessa discussão. Qual a avaliação do senhor com relação aos problemas que afetam as operações de comércio exterior do país?

O Brasil é um país que exporta 96% de via marítima, ou seja, nossa principal saída de produtos importados é pelo mar. Deveríamos ter excelentes portos, mas não temos  uma alternativa “B”, nossa alternativa é só “A”. Nós exportamos commodities que são produtos pesados, que somente são exportados via marítima, então nós deveríamos ter ótimos portos. Na realidade é bem diferente. Claro que houve uma melhoria em relação aos anos 90, mas ainda estamos longe de ser aqueles portos que podem ser utilizados como exemplo, então nosso grande gargalo ainda continua sendo os portos. Sugestão é que a estrutura fosse privatizada para operações portuárias, porque o setor privado tem muito mais agilidade e mesmo competência para realizar operações nessas áreas, mas infelizmente não é o que nós verificamos na prática hoje.

Aeroportos é a mesma coisa, ainda se pode utilizá-los para produtos de alto valor específico, mas nós estamos acompanhando hoje que os aeroportos têm grandes gargalos tanto na área de turismo, de passageiros, como no de cargas também. Esse é um grande problema que nós temos que solucionar, porque não adianta falar que vamos crescer, se nós não temos muitas vezes como colocar mercadoria no exterior. Então nós vendemos um produto, mas com uma competitividade muito baixa.

4) Os mercados globais têm passado por complicações que muitos definem como nova crise, motivada, recentemente, pelo rebaixamento da nota de crédito dos EUA. Nesse cenário, bolsas de todo o mundo têm sofrido quedas acentuadas e, no Brasil, o real se valoriza frente ao dólar. Como esse panorama impacta no setor de comércio exterior do país?


Na verdade esse panorama enfraquece a indústria nacional, porque o real valorizado faz com que seja muito barato importar e é exatamente o que nós estamos vendo hoje. Com a taxa de câmbio hoje muito baixa as importações crescem muito fortemente. Nós estamos acompanhando hoje o processo ainda localizado e não generalizado de desindustrialização, ou seja, as próprias indústrias estão começando a importar os produtos que eram fabricados no Brasil. Esse é o grande problema.

A crise gerada pelo rebaixamento da nota de crédito dos Estados Unidos é apenas um retrato.  A crise já está aparecendo na Europa de forma muito mais clara. A China procura esconder a crise interna do país, mas ela existe. Então existe uma crise que está dando todos os sinais que vai aparecer. A dúvida é qual a intensidade dessa e quando de fato ela vai se estabelecer. Hoje o mundo ainda continua muito líquido, e essa excessiva liquidez  faz com que a crise seja encolhida, mas na realidade tudo indica que vamos ter uma crise forte, duradoura, que vai atingir a indústria brasileira e, infelizmente, nós fazemos parte do modelo econômico. Certamente o Brasil será atingido.

5) Um dos setores que mais cresce no país é o de petróleo. Com o desenvolvimento dessa indústria, aumenta também o intercâmbio com empresas internacionais, que vêm investir no Brasil, especialmente motivadas pelo pré-sal. Qual a representatividade desse setor na realidade atual do comércio exterior brasileiro?

Esse é um setor importante em todas as áreas. Na área de comércio exterior brasileiro, ele tem um peso relativo negativo, porque basicamente está concentrado nas exportações de petróleo bruto. A exportação de gasolina é pequena, a exportação de óleo combustível é menor do que a de gasolina. Na verdade, ele se resume à exportação de óleo combustível e na de petróleo. Em termos de valor ele representa o conjunto de petróleo derivado em torno de 10% das exportações brasileiras. É muito, mas gostaríamos que fosse maior principalmente na exportação de produtos manufaturados.

Com a entrada em operação do pré-sal, que se imagina que vai ocorrer em 2016 ou 2018, se não houver atraso, a tendência é esse setor tenha um peso seja muito maior na balança comercial brasileira. É um setor importante principalmente no momento que a cotação de petróleo está num patamar muito elevado. O que tem que se deixar claro é que, se aumentar muito a produção dos países produtores de petróleo, a tendência natural é que se tenha uma queda nos preços, pois a oferta ficará maior que a demanda.

Leia  também a cobertura completa do NN - A Mídia do Petróleo ao ENAEX 2011

Fonte: NN - A Mídia do Petróleo.

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