sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Entrevista com Moreira Franco




A 5x Petróleo desta semana é com o Ministro Chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, Moreira Franco, durante viagem ao Rio de Janeiro, onde participou do seminário “Caminhos da Qualificação Técnica e Profissional no Brasil”, promovido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).

1X) Qual a visão do senhor, como integrante do governo, em relação às perspectivas de qualificação profissional no setor de petróleo e gás?
 
 Creio que está bem, nesta área não há dificuldade. Queríamos ter, para o trabalhador de um ou dois salários mínimos, o mesmo empenho, recursos, a mesma preocupação que se tem com a área de petróleo e gás, um setor de ponta tratado na economia, sobretudo depois do pré-sal, como a grande esperança para o futuro do Brasil. Isso gera um ambiente de preocupação, de busca de novas tecnologias - uma tradição da Petrobras.

O que nós queremos é criar este mesmo ambiente para a parcela trabalhadora que ganha de um a dois salários. Existem dificuldades porque não há ainda no Brasil programas que sirvam para qualificação da mão de obra formal, ocupada com esse padrão de salário. Criar isso, incorporando à empresa, gera um ambiente de facilidades para se incorporar novas tecnologias, melhora a produtividade e qualidade da mão de obra. Assim você cria no Brasil um mecanismo de combate a inflação.

2X) Como a qualificação profissional ajudaria no combate à inflação?
Há muitos anos é sempre a mesma política: achar que se combate a inflação deprimindo o consumo. Isso parece a experiência que se vivia no passado em termos de desenvolvimento econômico brasileiro. A teoria que predominava é que você precisava crescer para depois dividir. Felizmente, quando ganha a eleição, o presidente Lula consegue criar um ambiente político e mudar esta orientação de política econômica. Começou a partir do pressuposto de que era possível crescer e distribuir renda. E o resultado foi extremamente positivo. Eu acho que do ponto de vista do combate à inflação, já está na hora de repensar esta receita de inibir o consumo, aumentando juros. Vamos pensar que é possível também investir para melhorar a produtividade. É preciso qualificar, criar um ambiente propício à incorporação de tecnologias novas.

3X) Esta prática vigente de combate a inflação acaba então prejudicando mais esta parcela da população que ganha entre um e dois salários mínimos?
É exatamente isso. Sobretudo essa nova classe média que é um grande patrimônio de esperança para que nós possamos ser a quinta economia do mundo. Obrigatoriamente precisamos de uma classe média sólida, permanente. Não existe sociedade rica sem classe média sólida e permanente. Nós precisamos cuidar disso. Na Secretaria de Assuntos Estratégicos, estamos dedicados a compreender mais esse segmento: saber quem é, o que pensa, que valores e esperanças têm.
Os dados que temos são muito expressivos, mas precisamos aprofundar ainda mais, com o objetivo de ter uma atitude preventiva e não ficar, como no passado, correndo atrás do prejuízo - se tivermos uma situação econômica internacional difícil e ela repercutir no Brasil, nós temos que estar preparados com desenhos de políticas publicas para evitar que a nova classe média perca a mobilidade social que conviveu nos últimos oito ou dez anos e, sobretudo, garantir que não retorne a situação de pobreza anterior.

4X) Para o setor de Petróleo e Gás absorver esta nova classe média, onde está qualificação profissional? Na indústria ou no ensino técnico?
A qualificação deve estar em todo lugar. E quando a gente discute a necessidade de uma política para os trabalhadores ocupados com um ou dois salários, que tem uma mobilidade muito grande, é exatamente porque entendemos que a qualificação profissional é um instrumento para melhorar a qualidade humana. O ambiente dentro da empresa é importante, o ambiente na sociedade, a oferta permanente de possibilidades de cursos que falem muito mais ao interesse das pessoas do que a obrigatoriedade de poucas alternativas.
Temos que começar a criar uma sociedade na qual existam amplas oportunidades, não só democráticas e de acesso a todos, mas diversidade de oportunidades. Você precisa estimular em cada pessoa o seu talento para que ela possa produzir mais, se realizar mais e ter mais felicidade. Estas questões são básicas e estão presentes não só no esforço de qualificação e de incorporação de tecnologia para o setor de petróleo e gás, mas para o sistema produtivo brasileiro.

5X) Em longo prazo não fica difícil a manutenção do ensino técnico nas escolas? Não fica difícil amortizar estes investimentos?
Eu acho que não. Nós precisamos criar no Brasil um ambiente institucional que estimule a qualificação, o empreendedorismo; que estimule a criatividade. Eu cito sempre o exemplo deste jovem americano que criou o Facebook: se ele vivesse no Brasil, ele perderia a namorada e não criaria a empresa. Aqui, quem é criativo e têm boas notas, as meninas tendem a achar que é um chato, não valorizam (risos). Agora, fora da parte afetiva, o ambiente social não estimula o empreendedor, o risco da inovação não está ainda incorporado em nosso ambiente institucional.

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